quinta-feira, 1 de julho de 2010

Bullyng: prática antiga, problema atual


“Me chamavam de neguinha fedorenta e diziam que eu só deveria comer banana no recreio. Não tinha um dia na escola que eu não sofresse algum tipo de ridicularização por um grupo de colegas.” A discriminação racial, e todo o tipo de discriminação, gerando violência psicológica ou física, é conhecida por bullyng. O termo é atual, mas a prática é antiga. O relato da jovem que hoje, aos 26 anos cursa a faculdade, ainda é comum nas escolas de Guaporé.
A Escola Estadual Bandeirante, identificando a prática na sociedade local, resolveu realizar uma pesquisa de estatística, que ainda está em andamento entre os alunos. A conclusão do estudo para o turno da manhã já aponta alguns dados que demonstram que, as minorias, ainda são as mais perseguidas. Coordenados pela professora Dulcimara Balestreri, os estudantes do primeiro ano do ensino médio aplicaram 382 questionários em colegas de escola. As perguntas estavam relacionadas à prática do bullyng. Foram elas: você já sofreu bullyng? Com que frequência? Que tipo de violência você sofreu?

Diferenças
O que chamou a atenção da professora Dulcimara, foi o tipo de bullyng mais sofrido entre os estudantes da manhã. “Pela manhã, a questão que mais gera esta prática violenta, são as características físicas do indivíduo. Se ele é gordinho, se ele é baixinho, se tem espinhas, se é “diferente” do tipo físico considerado “padrão”. Já no turno da noite, com público mais adulto, mesmo com os números ainda não fechados completamente, podemos afirmar que a questão racial é a que mais gera bullyng”, destaca Dulcimara.
Os dados mostram que há alunos perseguidos por colegas todos os dias. E isso prejudica e muito o desenvolvimento social e psicológico do indivíduo. “Precisamos combater esta prática. O bullyng ocasiona traumas que a pessoa leva para a vida toda. Inclusive há muitos registros de abandono de escola, e em casos mais graves, de suicídio”, alerta.

Marcas de discriminação

 
É dever de toda a sociedade combater todo o tipo de preconceito, perseguição e violência. “Vivemos em um município que carrega traços da colonização italiana. E nossos antepassados ainda deixam marcas de discriminação contra negros, por exemplo. E isso é sentido nas salas de aula”, reforça a professora.
O aluno Carlos Henrique, da escola Bandeirante, veio para Guaporé de Tupandi, e conta que sofreu um bullyng ao contrário. “Sofri bullyng por me destacar no futebol. Como jogava bem, sofria discriminação”, afirma o jovem.
Algumas atitudes comuns nas escolas são os apelidos constrangedores, a perseguição aos mais fracos, a discriminação aos menos habilidosos nos esportes, o deboche pelo diferente, pelo que tem outra opção sexual, religião, crença ou cor, a violência física, com socos, empurrões, entre outros. “Há também o bullyng contra professores. Muitos sofrem grandes perseguições. E com a democratização da internet, a violência psicológica chegou à rede. Faz parte de sites de relacionamentos, com a criação de comunidades no orkut, e até mesmo através do envio de e-mails que depreciam a pessoa”, exemplifica.
Em busca do fim dessas ações de violência, a professora Dulcimara afirma que a escola trabalha há anos por uma cultura de paz. Ela conclama os vereadores e autoridades competentes a criarem mecanismos de combate à prática do bullyng, e que ajudem as escolas a evitar todo o tipo de constrangimento, no ambiente escolar, nas universidades e na sociedade.

"Eu fui vítima dele"

O escritor Rubem Alves destaca, em depoimento, o sofrimento real de quem sofre esta ação. “Eu fui vítima dele. Por causa dele, odiei a escola. Nas minhas caminhadas passadas, eu o via diariamente. Naquela adolescente gorda de rosto inexpressivo que caminhava olhando para o chão. E naquela outra, magricela, sem seios, desengonçada, que ia sozinha para a escola. Havia grupos de meninos e meninas que iam alegremente, tagarelando, se exibindo, pelo mesmo caminho. Mas eles não convidavam nem a gorda nem a magricela. "Bullying" é o nome dele. Dediquei-me a escrever sobre os sofrimentos a que crianças e adolescentes são submetidos em virtude dos absurdos das práticas escolares, mas nunca pensei sobre as dores que alunos infligem a colegas seus. Talvez eu preferisse ficar na ilusão de que todos os jovens são vítimas. Não são. Crianças e adolescentes podem ser cruéis. "Bully" é o valentão: um menino que, por sua força e sua alma deformada pelo sadismo, tem prazer em bater nos mais fracos e intimidá-los.”


O que é Bullyng?

Bullying é um termo inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender. O cientista sueco Dan Olweus define bullying em três termos essenciais:

• o comportamento é agressivo e negativo;
• comportamento é executado repetidamente;
• o comportamento ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.
O bullying divide-se em duas categorias:
• bullying direto;
• bullying indireto, também conhecido como agressão social

O bullying direto é a forma mais comum entre os agressores (bullies) masculinos. A agressão social ou bullying indireto é a forma mais comum em bullies do sexo feminino e crianças pequenas, e é caracterizada por forçar a vítima ao isolamento social. Este isolamento é obtido através de uma vasta variedade de técnicas, que incluem:

• espalhar comentários;
• recusa em se socializar com a vítima
• intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima
• criticar o modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos (incluindo a etnia da vítima, religião, incapacidades etc).

O bullying pode ocorrer em situações envolvendo a escola ou faculdade/universidade, o local de trabalho, os vizinhos e até mesmo países. Todavia, a vítima geralmente tem motivos para temer o agressor, devido às ameaças ou concretizações de violência física/sexual, ou perda dos meios de subsistência. Geralmente praticam bullyng agressores que têm personalidades autoritárias, combinadas com uma forte necessidade de controlar ou dominar.
Números que preocupam


Os resultados apontaram que 25% dos alunos entrevistados são vítimas do bullyng. Destes, 68% sofrem esporádicamente, 15% frequentemente, 14% todos os dias, e 3% não responderam. Dos que sofrem bullyng, 69% sofrem por suas características físicas, 9% por gênero, 1% por raça, 7% mais de um tipo, 12% por outras questões e 2% não responderam.





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