sexta-feira, 2 de julho de 2010

Seu Davi e a Brasília Azul




Todos os dias ele dá uma olhadinha atrás da porta da cozinha, confere a lista do mercado, passa a mão no boné, pega a chave do carro e diz “Nair, já volto”. Simpático e bem humorado, Armando Davi e sua Brasília Azul ano 73, faz parte da história viva de Guaporé. É difícil encontrar alguém que já não tenha visto esse senhor apressado, ao longo de seus 90 anos. “Vou fazer 91 no dia 27 de julho, Dia dos Motoristas”, avisa.
Filho de Leopoldo Davi e Elizabete Pierina Del Savio, “Seu Davi”, como é conhecido, nasceu em 1919, no final da Primeira Guerra Mundial. Residiu por mais de 50 anos nas terras que hoje pertencem ao Seminário São Carlos. Trabalhou mais de 50 anos na prefeitura, 18 anos no Cartório Eleitoral e 15 anos na Junta de Serviço Militar.

Nomes de trás para frente

Na companhia do inseparável automóvel adquirido há mais de 30 anos, ele aproveita as visitas ao mercado para reencontrar os amigos, colocar o papo em dia e fazer novas amizades, especialmente com crianças, a quem distribui balas e pronuncia seus nomes de trás para frente. “Arieob Alicsirp. Esse é o seu nome ao contrário”, diz sorridente.
O hábito de falar ao contrário começou quando criança. “Não é preciso ser muito inteligente. Minha primeira palavra foi Apolo, que era o nome de um cinema”, diz. Ele conta que, no tempo em que trabalhou no cartório, orientou muitas pessoas a escolher o nome de seus filhos. “Imagina que uma vez um senhor queria batizar o filho com o nome de Esquermecerec. Tive que intervir. O que seria dessa criança?”.
Seu Davi conheceu a esposa, Nair Balbinot Davi, em 1952, na Linha Colombo, quando foi buscar laranjas. “O pai dela disse que eu poderia passar na casa dele e pegar umas frutas. Quando cheguei na casa, vi um dicionário em cima da mesa e pedi de quem era. Ele me disse que era de sua filha, que estudava para ser professora”, recorda. “Meu pai dizia para eu ter cuidado com esse aí”, comenta Nair. Casaram em 1954 e tiveram quatro filhos que lhe deram sete netos.
O tempo

A filha Silvia Davi garante que Seu Davi tem disposição para dar e vender. “Todos os dias ele olha a lista do mercado e sai. Quando volta, ele olha novamente e, quando vê que esqueceu algo, volta a sair. Quando retorna, lembra que esqueceu de algum item e sai mais uma vez”.
Apesar de um pouco de esquecimento, o que é normal para a idade, Seu Davi enxerga muito bem e não pensa em aposentar a carteira de motorista. “Eu gostaria de dirigir até me sentir bem”, salienta. Mas também se recente com os efeitos que o tempo faz com sua memória. “A gente deveria chegar aos 80 e morrer, porque depois começa a falhar tudo”.

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